quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Consumo de ovos e aumento de luteína e zeaxantina; Concomitantemente não alterou o perfil lipídico em idosos

Texto de Heitor Oliveira

A luteína e a zeaxantina acumulam no pigmento macular da retina, e são parecem estar associados com menor incidência da degeneração macular relacionada com a idade.
Uma fonte rica em luteína e zeaxantina é a gema de ovos de galinha. Com base nisso Goodrow et al., (The Journal of Nutrition, 2006) realizaram um experimento cross-over, incluindo 33 idosos (média de 79 anos), onde destinaram-os a um período de 4 fases, totalizando 18 semanas.
FASE 1: 4 semanas de lavagem, ou seja, período de abstinência do consumo de ovos.
FASE 2: Divisão em 2 grupos; um ingeriu 1 ovo inteiro de galinha por dia e o outro se privou de tal consumo, assim ingerindo substituto de ovos
FASE 3: Outro período de lavagem, para trocarem os grupos entre si. Foi seguido o mesmo protocolo da FASE 1.
FASE 4: Trocaram os grupos entre si, seguindo o mesmo protocolo de consumo da FASE 2.
No período do consumo de ovos, a luteína plasmática aumentou em 26% ( P <0,001) e a zeaxantina em 38% ( P <0,001) em comparação com o período sem consumo de ovos. Nenhum marcador do perfil lipídico se alterou.
Cabe a mim, deixar explícito um detalhe que passa em branco muitas vezes; o estudo foi apoiado pela American Egg Board, Egg Nutrition Center, Washington, DC, logo, não iriam publicar resultados que denegriam o consumo de ovos. Temos que nos atentar quanto a isso. Todavia, foi um estudo com uma boa metodologia, um número considerável de indivíduos e bem controlado, além disso publicado em uma das melhores revistas de nutrição.
Uma coisa é fato, o estudo não fornece respaldo que o consumo de ovos irá prevenir ou diminuir a incidência de problemas oftalmológicos; muitos profissionais acabam destorcendo tal situação. Para isso, é interessante analisar um estudo específico que envolva riscos de doenças oftalmológicas com consumo de ovos, assim como um parâmetro específico da área para avaliar o quanto que o consumo de ovos ou até mesmo da luteína e zeaxantina de outros alimentos ou isoladas possam ser impactante

Fonte: Goodrow EF, Wilson TA, Houde SC, Vishwanathan R, Scollin PA, Handelman G, Nicolosi RJ. Consumption of one egg per day increases serum lutein and zeaxanthin concentrations in older adults without altering serum lipid and lipoprotein cholesterol concentrations. J Nutr. 2006 Oct;136(10):2519-24. jn.nutrition.org/content/136/10/2519.long


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Queijo x Manteiga no perfil lipídico

Por Heitor Oliveira.

Em uma meta-análise no Nutrition Reviews foi incluso 12 ensaios clínicos randomizados com duração de 2 a 8 semanas onde foi analisado o perfil lipídico de indivíduos saudáveis tendo o consumo de queijo gordo como intervenção e o controle variando entre manteiga, leite e tofu.


Destes ensaios clínicos, 5 tiveram queijo como intervenção e manteiga como controle, onde a dieta foi semelhante em calorias, macronutrientes e composição de ácido graxo, ou seja, teve toda proporção de teor lipídico para encontrar um ratio entre a ingestão do queijo e manteiga. Os estudos com queijo gordo teve por volta de 145g/d e manteiga entre 47-64g/d. Ao analisá-los em conjunto (gráfico forest plot) o consumo de queijo gordo diminuiu LDL em 6,5% (8,5 mg/dl) HDL em 3,9% (1,93 mg/dl) e colesterol sérico em comparação a manteiga, enquanto triglicerídios não se diferiu. 

Quando queijo gordo foi comparado com tofu o queijo gordo foi inferior na melhora do perfil lipídico, pois sua ingestão aumentou LDL e colesterol total. Ao comparar queijo gordo com leite não foi evidenciado diferença nos parâmetros lipídicos séricos.




O que dá pra retirar do estudo e aplicar na prática?

1- O consumo de manteiga deve ser banida?

Não, é incomum a ingestão de 60g de manteiga por dia durante muito tempo. O uso moderado não será impactante para aumento da LDL e colesterol total, se o paciente gosta e tem o hábito da pra incluir tranquilamente.

2- Queijo gordo irá diminuir a HDL?

Não necessariamente, o valor ENTRE os grupos realmente mostrou que o consumo de queijo gordo diminuiu HDL, mas o que é 1,93 mg/dl na parte clínica? E outra, a ingestão foi por volta de 145g de queijo gordo por dia que é muita coisa para adotar como um hábito.

3- Devo substituir queijo gordo por tofu?

Não, apenas caso goste. Não se encontra tofu em qualquer lugar e o gosto não é agradável para várias pessoas.

Contudo, da pra ingerir queijo gordo, manteiga, tofu, leite etc, basta ter moderação. Agora, se for pra aumentar a ingestão de proteína consequentemente aumentando o volume do alimento o melhor é optar aqueles com menos teor de gordura, principalmente se a pessoa tiver dislipidemia. Um dado interessante foi que triglicerídios não mudou entre os grupos, ou seja, se o paciente possui hipertrigliceridemia e tem o hábito de comer queijo gordo ou manteiga não é necessário retirar da dieta, apenas adequar.

Não se sabe definitivamente o porque que o queijo gordo diminuiu LDL e colesterol sérico em comparação com manteiga, hipóteses seria através de algum componente específico de ácido graxo saturado, maior teor de cálcio, proteína e vitamina K2 presente em função de ser um produto fermentado.


Fonte: de Goede J, Geleijnse JM, Ding EL, Soedamah-Muthu SS. Effect of cheese consumption on blood lipids: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Nutr Rev. 2015 May;73(5):259-75.